Dois pesos e dua medidas

Um homem foi encontrado morto num matagal nas proximidades da avenida desembargador Sérgio Morokawa, extremo sul da cidade. O corpo do homem estava caído de lado e os peritos constataram oito perfurações de bala calibre 38, sendo três na cabeça e o resto espalhado pelo corpo. Próximo ao corpo a polícia encontrou  uma pequena quantidade de droga e os documentos do morto, identificado como Vicente de Paula Sobrinho, 26 anos, ajudante geral, sem residência fixa, conhecido como Mineiro. Pela quantidade de tiros disparados contra a vítima, segundo a polícia, o crime pode ter sido praticado por vingança ou acerto de contas entre marginais.

A história de Vicente confunde-se com a de outros tantos rapazes que são vítimas de homicídio nas periferias das grandes cidades brasileira.Vicente nasceu na cidade de São Pedro dos Ferros, Minas Gerais, órfão de pai, com a morte de sua mãe, ainda criança veio morar com a tia num bairro da periferia de São Paulo.

Sem conseguir concluir o ensino fundamental Vicente chega à adolescência. Desde criança, enturmado com a rapaziada do bairro, Vicente logo começa a praticar pequenos furtos. Até que um dia, já maior de idade, Vicente é convidado por seus amigos para fazer parte de uma quadrilha de roubo de cargas. Dois anos depois já estava com a vida estabilizada. Alugou uma pequena casa,comia e se vestia muito bem, comprou uma motocicleta e andava paquerando as meninas do bairro. Era a vida com a qual sonhara.

Tudo ia bem até que um dia, num assalto na via Dutra a polícia cercou a quadrilha, todos fugiram só Vicente foi apanhado. Levado à delegacia de roubos de carga, Vicente foi submetido a um rigoroso interrogatório “ científico” que o levou a entregar seus comparsas. Depois julgado e condenado,foi levado para a penitenciária do estado onde cumpriu 8 anos de prisão em regime fechado. Seis meses após ter sido solto Vicente foi morto por seus antigos comparsas.

Essa pequena história do menino Vicente, ilustra bem como funcionam as coisas no Brasil “ o país do faz de conta”. Paulo Roberto Costa, o primeiro delator da Lava Jato, desviou milhões de dólares da Petrobras, fez um acordo com a justiça,entregou os seus comparsas, ficou com uma boa parte do dinheiro roubado, está em prisão domiciliar e acaba de concluir sua bela casa na Costa Verde.

Ao contrário de Vicente que facilitou o trabalho da justiça entregando os comparsas, sem assistência jurídica amargou 8 anos de prisão em regime fechado, perdeu tudo o que tinha e teve a morte como premio por sua delação.

O procurador Carlos dos santos Lima, um dos investigadores da Lava Jato definiu o Brasil como “o país do faz de conta”. Mas pelo jeito o país não é só do faz de conta,mas também dos dois pesos e duas medidas..

Autor: Ivam Galvão
E-mail:  ivamgalvaopoa@gmail.com


Comentários

  1. Nesse texto, meu amigo Ivam expressa com propriedade a realidade que impera no Brasil.

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  2. Concordo com o Samuel Ferreira.
    Belo Texto Ivam Galvão e triste a realidade do nosso amado país.

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