Era uma noite de sábado. Ela estava ali, aguardando para realizar o grande sonho de sua vida. Linda, num belo e luxuoso vestido de lindas estampas coloridas. Seu nome de pia era Rosalina Pereira do Amor Divino. Bonita, de pele morena, olhos agateados, dentes brancos e perfeitos, pernas bem torneadas e firmes era portadora da beleza das mulheres potiguar.
Enquanto aguardava as moças que viriam dar os últimos retoques em sua maquilagem e nos cabelos, Rosalina fecha os olhos e numa retrospectiva começa a recordar as coisas que lhe aconteceram até chegar aquele momento que sem duvida era o sonho de muitas moças de sua idade. Nascida em São Gonçalo do Amarante, cidade situada na região metropolitana de Natal, Rio Grande do Norte, chegou a São Paulo em janeiro de 1989, dois anos após seus pais seu Laurindo e dona Judite serem barbaramente assassinados no episódio que ficou nacionalmente conhecido como a tragédia do Potengi.
Numa quarta-feira pela manhã, após uma viagem de 58 horas chega na maior cidade da América Latina. Chovia a cântaros. As ruas estavam alagadas e o ônibus tivera dificuldades para estacionar na plataforma de desembarque. Mas apesar de tudo estava feliz por ter deixado tudo para trás e e estar agora na cidade grande. Viera para encontrar seu irmão José Francisco que a dois anos não mandava notícias.
Recorda do desespero em que ficou quando teve suas coisas roubadas logo que desembarcou na rodoviária. Do motorista do taxi que ajudou a localizar o endereço do irmão onde soube que este tinha morrido atropelado e fora sepultado há mais de uma semana. Lembra da primeira casa de família em que foi trabalhar onde o filho da patroa tentou estuprá-la, do senhor idoso que propôs a ela que ficasse sua amante. Da cafetina que tentou transformá-la em prostituta. Do frio e da fome que passou quando perambulava pelas ruas da cidade, das noites dormidas sobre papelão, do medo da morte e da violência das ruas.
Lembra o dia que certamente ficará para sempre em sua memória, foi o dia que encontrou a pessoa que mudaria sua vida para sempre. A bondosa dona Sarah.
Nesse dia estava perambulando pelas ruas do bairro do Brás tentando ver se arranjava algo para comer, vencida pelo cansaço sentou-se na calçada. Vestida com uma blusa bem fininha de mangas curtas e uma mini saia cuja a sujeira indicava o excesso de uso, uma senhora vestida com um vestido bem comprido e com a cabeça coberta por um lenço vendo-a caída naquele estado parou e perguntou:
Menina o que você está fazendo neste frio , ainda por cima vestida desse jeito?
Senhora não roupas, não sei pra onde ir e nem sei o que fazer, respondeu.
Você não pode ficar aí, venha comigo, vou levar você pra minha casa! disse dona Sarah.
Senhora não posso ir para sua casa, olhe o meu estado. A senhora nem me conhece! disse Rosalina.
Isto não importa. Vamos! Venha comigo! retrucou dona Sarah.
Dali pra frente tudo mudou. Dona Sarah, uma migrante libanesa era viúva, seu único filho era médico, morava e trabalhava dirigindo um grande hospital nos Estados Unidos, vinha ao Brasil duas vezes ao ano para visitar dona Sarah e alguns primos.
Ao chegar na casa de dona Sarah, Rosalina ficou assustada. Era um apartamento bem grande e ficava no quinto andar de um prédio na rua Muller, bem no centro comercial do Brás.
Dona Sarah foi logo providenciando toalha e roupas limpas, indicou o banheiro e pede a Rosalina que tome um banho.
Minutos depois,de banho tomado, livre daquela mini saia suja e da blusa encardida, aparece uma linda jovem revelando os traços suaves do seu rosto.
- Filha como é mesmo o seu nome? perguntou dona Sarah.
- Rosalina Pereira do Amor Divino , respondeu.
- Tá bom filha o meu é Sarah! Amanhã vou à uma loja comprar umas roupas pra você, hoje você fica de roupão, pois as minhas roupas não servem em você. Agora vem comer, vem! Dona Sarah leva Rosalina para a cozinha e lhe dá algo para comer.
Dez anos se passaram. Rosalina e dona Sarah ficaram como mãe e filha. Estudou e se formou como assistente social, aprendera as coisa da religião, viajou várias vezes para os Estados Unidos para visitar Said - o filho de dona Sarah - que também a considerava como irmã.
Agora estava ali, prestes a entrar naquele salão luxuoso, bem decorado, cheio de pessoas elegantes.
Ela agora era uma mulher muçulmana, seu nome agora é Khadja, adotara o nome da mãe dos crentes.
Estava a poucos minutos de se casar com o advogado ,também muçulmano Ahmad Ali, assim como ela um brasileiro convertido à religião islâmica. Minutos depois retocada a maquilagem, Khadja entra no salão de festas da primeira Mesquita construída na América - a Mesquita Brasil - deixou para trás todo um passado de solidão e sofrimento, deixou a mini saia suja e esfarrapada e agora usa um lindo e colorido vestido e na cabeça um hijab importado, definitivamente o passado estava morto, agora dali pra frente...Allahualam!
Autor Ivam Galvão
E-mail ivamgalvaopoa@gmail.com
Enquanto aguardava as moças que viriam dar os últimos retoques em sua maquilagem e nos cabelos, Rosalina fecha os olhos e numa retrospectiva começa a recordar as coisas que lhe aconteceram até chegar aquele momento que sem duvida era o sonho de muitas moças de sua idade. Nascida em São Gonçalo do Amarante, cidade situada na região metropolitana de Natal, Rio Grande do Norte, chegou a São Paulo em janeiro de 1989, dois anos após seus pais seu Laurindo e dona Judite serem barbaramente assassinados no episódio que ficou nacionalmente conhecido como a tragédia do Potengi.
Numa quarta-feira pela manhã, após uma viagem de 58 horas chega na maior cidade da América Latina. Chovia a cântaros. As ruas estavam alagadas e o ônibus tivera dificuldades para estacionar na plataforma de desembarque. Mas apesar de tudo estava feliz por ter deixado tudo para trás e e estar agora na cidade grande. Viera para encontrar seu irmão José Francisco que a dois anos não mandava notícias.
Recorda do desespero em que ficou quando teve suas coisas roubadas logo que desembarcou na rodoviária. Do motorista do taxi que ajudou a localizar o endereço do irmão onde soube que este tinha morrido atropelado e fora sepultado há mais de uma semana. Lembra da primeira casa de família em que foi trabalhar onde o filho da patroa tentou estuprá-la, do senhor idoso que propôs a ela que ficasse sua amante. Da cafetina que tentou transformá-la em prostituta. Do frio e da fome que passou quando perambulava pelas ruas da cidade, das noites dormidas sobre papelão, do medo da morte e da violência das ruas.
Lembra o dia que certamente ficará para sempre em sua memória, foi o dia que encontrou a pessoa que mudaria sua vida para sempre. A bondosa dona Sarah.
Nesse dia estava perambulando pelas ruas do bairro do Brás tentando ver se arranjava algo para comer, vencida pelo cansaço sentou-se na calçada. Vestida com uma blusa bem fininha de mangas curtas e uma mini saia cuja a sujeira indicava o excesso de uso, uma senhora vestida com um vestido bem comprido e com a cabeça coberta por um lenço vendo-a caída naquele estado parou e perguntou:
Menina o que você está fazendo neste frio , ainda por cima vestida desse jeito?
Senhora não roupas, não sei pra onde ir e nem sei o que fazer, respondeu.
Você não pode ficar aí, venha comigo, vou levar você pra minha casa! disse dona Sarah.
Senhora não posso ir para sua casa, olhe o meu estado. A senhora nem me conhece! disse Rosalina.
Isto não importa. Vamos! Venha comigo! retrucou dona Sarah.
Dali pra frente tudo mudou. Dona Sarah, uma migrante libanesa era viúva, seu único filho era médico, morava e trabalhava dirigindo um grande hospital nos Estados Unidos, vinha ao Brasil duas vezes ao ano para visitar dona Sarah e alguns primos.
Ao chegar na casa de dona Sarah, Rosalina ficou assustada. Era um apartamento bem grande e ficava no quinto andar de um prédio na rua Muller, bem no centro comercial do Brás.
Dona Sarah foi logo providenciando toalha e roupas limpas, indicou o banheiro e pede a Rosalina que tome um banho.
Minutos depois,de banho tomado, livre daquela mini saia suja e da blusa encardida, aparece uma linda jovem revelando os traços suaves do seu rosto.
- Filha como é mesmo o seu nome? perguntou dona Sarah.
- Rosalina Pereira do Amor Divino , respondeu.
- Tá bom filha o meu é Sarah! Amanhã vou à uma loja comprar umas roupas pra você, hoje você fica de roupão, pois as minhas roupas não servem em você. Agora vem comer, vem! Dona Sarah leva Rosalina para a cozinha e lhe dá algo para comer.
Dez anos se passaram. Rosalina e dona Sarah ficaram como mãe e filha. Estudou e se formou como assistente social, aprendera as coisa da religião, viajou várias vezes para os Estados Unidos para visitar Said - o filho de dona Sarah - que também a considerava como irmã.
Agora estava ali, prestes a entrar naquele salão luxuoso, bem decorado, cheio de pessoas elegantes.
Ela agora era uma mulher muçulmana, seu nome agora é Khadja, adotara o nome da mãe dos crentes.
Estava a poucos minutos de se casar com o advogado ,também muçulmano Ahmad Ali, assim como ela um brasileiro convertido à religião islâmica. Minutos depois retocada a maquilagem, Khadja entra no salão de festas da primeira Mesquita construída na América - a Mesquita Brasil - deixou para trás todo um passado de solidão e sofrimento, deixou a mini saia suja e esfarrapada e agora usa um lindo e colorido vestido e na cabeça um hijab importado, definitivamente o passado estava morto, agora dali pra frente...Allahualam!
Autor Ivam Galvão
E-mail ivamgalvaopoa@gmail.com
Que lindo texto ! Gosto demais do seu trabalho Ivam
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